
Não há parábola ou discurso de nosso Senhor que seja tão
conhecido e tão popular como a parábola do filho pródigo. Nenhuma outra
parábola é citada com mais freqüência em discussões religiosas, ou mais usada
para apoiar várias teorias ou controvérsias em relação a este assunto. E é
verdadeiramente espantoso e admirável quando observamos as inumeráveis formas
em que ela é usada, e a infinita variedade de conclusões a que afirmam que ela
leva. Todas as escolas de pensamentos parecem ter uma reivindicação sobre a
mesma: ela é usada para provar toda espécie de teorias e idéias opostas, que
combatem umas às outras e que se excluem mutuamente. É bastante claro,
portanto, que a parábola pode facilmente ser manipulada ou mal interpretada.
Como podemos evitar esse perigo? Quais os princípios que devem nos orientar
quando a interpretamos? Pessoalmente creio que há dois principais fundamentais
que devem ser observados, e que se observados, garantirão uma interpretação
correta.
O primeiro principio é que sempre devemos nos precaver do
perigo de interpretar qualquer passagem das Escrituras de uma forma que entre
em conflito com o ensino geral da Bíblia. O Novo Testamento deve ser examinado
como um todo. É uma revelação completa e integral, dada por Deus através dos
Seus servos - uma revelação que foi dada em partes que, unidas, formam uma
unidade completa. Portanto, não há contradições entre essas várias partes, não
há conflito nem passagens ou declarações irreconciliáveis. Isso não significa
que podemos entender cada uma de suas declarações. O que estou dizendo é que
não há contradição nas Escrituras e sugerir que os ensinos de Jesus Cristo e de
Paulo, ou os ensinos de Paulo e dos demais apóstolos não concordam entre si é
contrário a todas as reivindicações do Novo testamento em si, e as
reivindicações da Igreja através dos séculos, até o levantamento da chamada
escola da alta crítica, há cerca de cem anos atrás. Não preciso abordar a
questão aqui. Basta dizer que são apenas os críticos mais superficiais, os que
agora estão ultrapassando em muitos anos, que ainda tentam defender uma
antítese entre o que chamam de “a religião de Jesus” e a “fé do apóstolo
Paulo”. Escrituras devem ser comparadas com Escrituras. Cada teoria que
desenvolvemos deve ser testada pelo conjunto geral de doutrinas e dogmas da
Bíblia toda, e que foi definido pela Igreja. Se esta regra fosse lembrada e
observada, a maioria das heresias jamais teria surgido.
O segundo principio é um pouco mais específico: sempre
devemos evitar o perigo de chegar a conclusão negativas a respeito dos ensinos
de uma parábola. Isso não se aplica somente a esta parábola em particular, mas
a toda as parábolas. Uma parábola nunca tem o propósito de ser um esboço
completo da verdade. Seu objetivo é comunicar uma grande lição, ou apresentar
um grande aspecto de uma verdade positiva. Sendo esse o seu objetivo e
propósito, nada é mais tolo do que chegar a conclusões negativas a respeito de
uma parábola. A omissão de certas coisas numa parábola não tem qualquer
significado particular. Uma parábola é importante e significativa por causa
daquilo que ela diz, e não devido às coisas que não diz. O seu valor é
exclusivamente positivo, e de forma alguma negativo. Ora, digo a vocês que a
desconsideração desta simples regra tem sido responsável pela maioria das
estranhas e fantásticas teorias e idéias supostamente desenvolvidas a partir
desta parábola do filho pródigo. É impressionante que tal coisa tenha sido
possível, pois se aquele que fizeram isso tão-somente tivessem examinado as
outras duas parábolas que encontramos neste mesmo capítulo, teriam compreendido
imediatamente até que ponto seus métodos foram injustificáveis. Porque então,
não tiraram delas também conclusões negativas? E igualmente com todas as outras
parábolas?
Mas, à parte disso, como é ridículo e ilógico, basear e
estabelecer nosso sistema de doutrina sobre algo que não é dito! É por demais
desonesto! Desonesto, porque ignora toda a autoridade, deixando-nos sem
quaisquer padrões exceto nossos próprios preconceitos, desejos e imaginações. E
isso, repito, é o que tem sido feito com esta parábola com tanta freqüência.
Quero ilustrar isso, lembrando-lhes de algumas das falsas conclusões tiradas
desta parábola. Não seria esta parábola a qual se referem constantemente quando
tentam provar que idéias de justiça, juízo e ira são completamente estranhas à
natureza de Deus e aos ensinos de Jesus a respeito dEle? “Não vemos nada aqui”,
dizem, “acerca da ira do pai, nem qualquer exigência de certos atos por parte
do filho — somente amor, puro amor, nada senão amor”. Este é um exemplo típico
de uma conclusão negativa tirada desta parábola. Só porque ela não apresenta um
ensino declarado sobre a justiça e ira de Deus, presumem que tais
características não fazem parte da natureza de Deus. O fato de Jesus Cristo
enfatizar essas características em outros textos é completamente ignorado.
Outro exemplo é o ensino de que esta parábola elimina a absoluta necessidade de
arrependimento. Ouvi falar de um pregador que tentou provar que o pródigo era
um farsante, mesmo quando voltou para casa, que ele decidiu dizer algo que
soasse bem, ainda que realmente não viesse do seu coração, apenas para
impressionar o pai, e que a repetição exata de suas palavras provava isso. O
ponto crucial era que, apesar de tudo isso, apesar da repetição hipócrita das
palavras, ainda assim o pai o perdoou. O argumento final desse pregador era que
o pai não disse uma palavra concernente ao arrependimento. Portanto, uma vez
que ele nada disse a respeito, não é importante; uma vez que o arrependimento
não é ensinado nem enfatizado pelo pai, isso significa que arrependimento
diante de Deus não importa!
Mas talvez a mais séria de todas as conclusões falsas é
aquela que declara que não há necessidade de um mediador entre Deus e o homem e
que a idéia de expiação é estranha ao evangelho — a qual deve ser atribuída à
mente legalista de Paulo. “A parábola não faz qualquer menção”, dizem, “de
alguém entre o pai e o filho. Nenhuma referência é feita sobre outra pessoa
pagando um resgate, ou fazendo uma expiação; vemos apenas uma interação direta
entre o pai e o filho, resultante apenas da volta do filho daquela terra
distante”. Desde que tais coisas não são mencionadas ou enfatizadas de forma
específica na parábola, essas pessoas concordam que elas não são realmente
importantes ou imprescindíveis. Como se o objetivo de nosso Senhor nesta
parábola fosse apresentar um esboço completo de toda a verdade cristã, e não
apenas ensinar um aspecto dessa verdade. Certamente deve ser óbvio para você
que, se um processo semelhante fosse aplicado a todas as parábolas, teríamos um
completo caos, e enfrentaríamos uma multidão de contradição!
O propósito de uma parábola, então, é nos apresentar e
ensinar uma grande verdade positiva. E se há um caso em que isso deve ser claro
e evidente, é no caso desta parábola. Não é por acaso que ela é parte de uma
série de três parábolas. Nosso Senhor parece ter feito um esforço especial para
nos proteger do perigo ao qual estou referindo. Contudo, mesmo à parte disso, a
chave de tudo nos é oferecida nos dois primeiros versículos do capítulo, que
nos fornecem o contexto essencial. “E chegavam-se a ele os publicamos para o
ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: este recebe pecadores,
e come com eles”. Então se seguem estas três parábolas, obviamente com o
objetivo de tratar dessa situação específica, e responder às objeções dos
escribas e fariseus. E, como se desejasse acrescentar uma ênfase especial,
nosso Senhor apresenta uma certa moral ou conclusão ao término de cada
parábola. O elemento principal, certamente, é que há esperança para todos que o
amor de Deus alcança, até mesmo publicanos e pecadores. A gloriosa verdade que
brilha nesta parábola, e que o Senhor quer gravar em nós, é o maravilhoso amor
de Deus, seu escopo e sua extensão; e isso é feito especialmente em contraste
com as idéias dos fariseus e dos escribas sobre o assunto.
As primeiras duas parábolas têm o propósito de nos
mostrar o amor de Deus expresso numa busca ativa do pecador, esforçando-se por
encontrá-lo resgatá-lo; e elas nos mostram a alegria de Deus e de todas as
hostes celestiais quando uma única alma é salva. E então chegamos a esta
parábola do filho pródigo. Por que ela foi acrescentada? Por que essa
elaboração suplementar? Por que um homem, em vez de uma ovelha ou moeda
perdida? Certamente pode haver uma resposta. As primeiras duas parábolas
enfatizam unicamente a atividade de Deus sem nos dizer coisa alguma a respeito
das ações, reações ou condições do pecador; porém esta parábola é apresentada
para realçar esse aspecto e esse lado da questão, para que ninguém seja tolo ao
ponto de pensar que todos seremos salvos automaticamente pelo amor de Deus,
assim como a ovelha e a moeda foram encontradas. O ponto fundamental ainda é o
mesmo, mas sua aplicação aqui se torna mais direta e mais pessoal. Qual, então
é o ensino desta parábola, qual é a sua mensagem para nós hoje? Vamos
examiná-la à luz dos seguintes parâmetros.
A primeira verdade que ela proclama é a possibilidade de
um novo começo, a possibilidade de um novo início, uma nova oportunidade, uma
nova chance. O próprio contexto e cenário da parábola, como já mencionei,
demonstra isso com perfeição. Foi porque eles sentiram e viram isso em Seus
ensinos que os publicanos e pecadores “chegavam-se a ele para ouvir” — pois
sentiam que havia uma oportunidade até mesmo para eles e que nos ensinos desse
homem havia uma nova e viva esperança. E até mesmo os fariseus e os escribas
viram exatamente a mesma coisa. O que irritava era que o Senhor tivesse
qualquer tipo de associação com os publicanos e pecadores. Eles sempre tinham
considerado tais pessoas como irrecuperáveis, sem qualquer esperança de
redenção. Essa era a opinião ortodoxa de tais pessoas. Eram consideradas tão
irremediáveis que eram totalmente ignoradas. A religião era para pessoas boas e
nada tinha a ver com os que eram maus, e certamente nada tinha a lhes dar, nem
aconselhava que boas pessoas se misturassem com os maus, tratando-os com
bondade e oferecendo-lhes novas possibilidades. Então os ensinos de Senhor
irritavam os fariseus e os escribas. Para eles qualquer um que visse
possibilidade ou esperanças para um publicano ou pecador devia ser um blasfemo,
e estava totalmente errado. Exatamente o mesmo ponto surge na parábola, nas
diferentes atitudes do pai e do irmão mais velho para com o pródigo — não como
ele devia ser recebido de volta, mas se ele devia ser recebido de volta, ou se
merecia alguma coisa.
Isso, então é o que se salienta imediatamente. Existe a
possibilidade de um novo começo, e isso para todos, mesmo para aqueles que
parecem estar além de toda esperança. Não podia haver caso pior do que o do
filho pródigo. Todavia até mesmo ele pode começar de novo. Ele chegara ao fim
de si mesmo, tinha tocado os limites máximos da degradação, caindo tanto que
não podia descer mais! Não há quadro mais desesperador do que o desse jovem,
num país distante, em meio aos porcos, sem dinheiro e sem amigos, desesperançado
e miserável, abandonado e desalentado. Mas até mesmo ele tem a oportunidade de
um novo início; até mesmo ele pode começar outra vez. Há um ponto decisivo que
pode resultar em êxito e felicidade, até mesmo para ele. Que evangelho
abençoado, especialmente num mundo como o nosso! Que diferença a vida de Jesus
Cristo operou! Ele trouxe nova esperança para a humanidade. Nada demonstra e
prova mais o fato de que o evangelho de Jesus Cristo realmente é a única
filosofia de vida otimista oferecida ao homem, do que publicanos e pecadores se
chegarem a Ele para ouvi-lO. E a mensagem que ouviram, como nesta parábola do
filho pródigo, era algo inteiramente novo.
Mas quero que observem que isso não só era novo para os
judeus e os seus líderes, mas também para o mundo todo. A esperança estendida
pelo evangelho aos mais vis e desesperados não só contrariava o miserável
sistema dos judeus, mas também a filosofia dos gregos. Aqueles grandes homens
tinham desenvolvido suas teorias e filosofias; todavia nenhum deles tinha algo
a oferecer aos derrotados e liquidados. Todos exigiam um certo nível de
inteligência, integridade moral e pureza. Todos requeriam muito da natureza
humana à qual se dirigiam. Também não eram realistas. Escreviam e falavam de
forma altamente intelectual e fascinante a respeito de suas utopias e suas
sociedades ideais, mas deixavam a humanidade exatamente na mesma situação. Eram
totalmente alienados à vida diária do homem comum. As únicas pessoas que podiam
tentar colocar em prática seus métodos idealistas e humanísticos para resolver
os problemas da vida eram os ricos e os desocupados, e mesmo estes
invariavelmente descobriam que esses métodos não funcionavam. Não havia, como
nunca houvera antes, qualquer esperança para os desesperados do mundo antes da
vinda de Jesus Cristo. Ele foi o único que proclamou a possibilidade de um novo
começo.
Ora, esse ensino não era novo apenas naquela época,
durante os Seus dias aqui na terra; ainda é novo hoje em dia. Ainda é
surpreendente e assombroso, e ainda espanta o mundo moderno tanto quanto
espantou o mundo antigo há quase dois mil anos atrás. O mundo continua sem
esperança e a filosofia que o controla ainda é profundamente pessimista. E isso
talvez possa ser percebido com maior clareza quando ele tenta ser otimista, pois
vemos que quando tenta nos confortar, ele sempre aponta para o futuro com suas
possibilidades desconhecidas, e nos diz que no novo ano as coisas certamente
serão melhores ou que de qualquer forma não podem piorar! E argumenta que a
depressão já durou tanto que certamente uma mudança da maré deve ser iminente!
Alegra-se que um ano terminou e outro vai começar. Qual é o segredo de um novo
ano? Seu grande segredo está no fato de que nada sabemos a seu respeito! Tudo
que sabemos é ruim; daí tentarmos nos consolar contemplando o que nos é
desconhecido, imaginando que vai ser muito melhor. Ouçam também as suas idéias
e seus planos para melhorar a humanidade. Tudo o que pode dizer é que está
tentando tornar o mundo melhor para seus filhos, tentando edificar algo para o
futuro e para a posteridade. Sempre no futuro! Nada tem a oferecer no presente;
sua única esperança é tornar as coisas melhores para aqueles que ainda não
nasceram. E quanto mais proclama isso e tenta colocá-lo em pratica, mais
hesitante se torna. Como prova, basta compararmos a linguagem de 1875 com a de
1935 ou mesmo a de 1905 com a de 1935.
Pois bem, se essa é a situação em relação à sociedade em
geral, quanto mais desesperada e irremediável ela é quando considerada num
sentido mais individual e pessoal! Que solução o mundo tem a oferecer para os
problemas que nos afligem? A resposta a essa pergunta pode ser vista nos
esforços frenéticos de homens e mulheres para tentarem resolver seus problemas.
E, no entanto, nada é mais evidente do que o fato que seus esforços são inúteis
e sempre fracassam. Ano após ano homens e mulheres fazem novas revoluções.
Compreendem que, acima de tudo, o que precisam é de um novo começo. Decidem
voltar as costas ao passado e virar uma nova página — ou, às vezes, começam um
novo livro! Esse é o seu desejo, essa é sua firme decisão e intenção. Querem
desvincular-se do passado, e por algum tempo fazem o possível para isso, mas
nunca permanecem no intento. Ao poucos, inevitavelmente, voltam à sua velha
posição e sua antiga situação. E depois de algumas experiências assim, acabam
desistindo de tentar outra vez, e concluem que é tudo inútil. Lutam e se
esforçam por algum tempo, mas finalmente a fadiga e o cansaço os vencem, a
pressão e a força do mundo e suas filosofias parecem estar totalmente do outro
lado, e eles entregam os pontos. A posição parece ser inteiramente sem
esperança. Eu me pergunto: quantos, até mesmo aqui neste culto hoje, sentem que
estão nessa situação, de uma forma ou outra? Meu amigo, você sente que perdeu o
mundo, que se desviou? Sente-se constantemente assediado pelo que “podia ter
sido”? Sente que está em tal situação, ou em tal posição, que não tem nenhuma
esperança de sair dela e endireitar-se novamente? Sente que esta tão longe
daquilo que devia ser e do que gostaria de ser, que não pode mais alcançá-lo?
Você sente que não tem mais esperança por causa de alguma situação que está
enfrentando, ou devido alguma complicação em que se envolveu, um pecado que o
domina, o qual não consegue vencer? Você já disse a si mesmo: “Que adianta
tentar outra vez? Já tentei tantas vezes antes, e sempre fracassei; tentar
outra vez só pode produzir o mesmo resultado. Minha vida é uma confusão; perdi
minha oportunidade e daí para frente devo me contentar em fazer o melhor que
posso na situação em que estou”. São estes os seus sentimentos e pensamentos?
Já está convencido que perdeu sua oportunidade na vida, que o que passou
passou, e que se você tivesse outra oportunidade tudo seria diferente, todavia
isso é impossível? É essa a sua posição? Coitado! Quantos estão em tal
situação? Como é infeliz e sem esperança a vida da maioria dos homens e das
mulheres! Como é triste! Ora, a primeira palavra do evangelho para os que estão
nessa situação é que eles devem erguer suas cabeças, que nem tudo está perdido,
que ainda há esperança, ainda há esperança de um novo começo, aqui e agora,
neste momento, sem qualquer relação com algo imaginário e pertencente a um
futuro desconhecido; mas algo que se baseia num fato que se passou há quase dois
mil anos atrás, o qual ainda é tão poderoso hoje como era então. Até mesmo o
pródigo tem esperança. Há um ponto de retorno no caminho mais tenebroso e
irremediável. Há um novo começo oferecido até mesmo aos publicanos e pecadores.
Contudo, quero enfatizar em detalhes o que já mencionei
de passagem: esta mensagem do evangelho não é algo geral e vago como a mensagem
do mundo, mas é algo que contém condições muito definidas. E é aqui que vemos
com maior clareza porque nosso Senhor proferiu essa parábola em acréscimo às
outras duas. Para que possamos tirar proveito desse novo começo oferecido pelo
evangelho, precisamos observar os seguintes pontos. Ouçam amigos, permitam que
eu enfatize a importância de fazermos isso! Se vocês simplesmente ficarem
sentados, ouvindo e permitindo que o quadro brilhante do evangelho os emocione,
voltarão para casa exatamente como chegaram aqui. Todavia, se observarem cada
ponto com cuidado, e o colocarem em prática, voltarão para casa como pessoas
totalmente diferentes. Se estão ansiosos por tirarem proveito da nova esperança
e do novo começo oferecido pelo evangelho, então devem seguir suas instruções e
seus métodos. Pois bem, quais são eles?
O primeiro é que devemos enfrentar nossa situação com
franqueza e honestidade. É uma coisa estar numa posição má e difícil, outra
coisa completamente diferente é enfrentá-la com sinceridade. Este filho pródigo
estava numa situação péssima por muito tempo antes de chegar ao ponto de
realmente compreender isso. Uma pessoa não cai subitamente na situação descrita
aqui. Aquilo aconteceu aos poucos, quase sem que ele percebesse. E mesmo depois
que aconteceu, ele levou algum tempo para percebê-lo. O processo é tão sutil e
tão insidioso que a pessoa mal percebe. Ela contempla seu rosto no espelho
todas as manhãs e não nota as mudanças que estão acontecendo. Somente alguém
que não a vê com freqüência pode notar os efeitos com mais clareza. E muitas
vezes, quando começamos a sentir terrível realidade da nossa situação,
deliberadamente evitamos pensar a respeito. Colocamos tais pensamentos de lado
e nos ocupamos com outras coisas comentando: “Que adianta pensar a respeito
disso? Essa é a situação, acabou!” Ora, o primeiro passo no caminho da volta, é
enfrentar a situação com honestidade e franqueza. Lemos que esse jovem “caiu em
si”. Foi exatamente o que ele fez! Ele enfrentou a situação, e o fez com
sinceridade. Compreendeu que seus problemas eram resultado exclusivo de sua
próprias ações, que ele fora um tolo, que não devia ter abandonado a casa de seu
pai, e certamente não devia tê-lo tratado da maneira que fizera. Ele olhou para
si mesmo e mal conseguiu acreditar no que viu! Olhou para os porcos e as
bolotas à sua volta. Encarou a situação de frente!
Meu amigo, você já fez isso? Já olhou para si mesmo? Já
pensou se todas as suas ações durante o ano que passou fossem colocadas no
papel? E se tivesse mantido um registro de todos os seus pensamentos e desejos,
suas ambições e imaginações? Você permitiria que isso fosse publicado sob seu
nome? O que você é hoje em comparação com o que foi no passado? Olhe para suas
mãos — estão limpas? E os seus lábios — são puros? Olhe para seus pés — onde
eles pisaram, que caminho percorreram? Olhe para si mesmo! É realmente você? E
então olhe à sua volta, para a sua posição e os seu ambiente. Não fuja! Seja
honesto! Do que você está se alimentando? Comida ou bolotas lançadas aos
porcos? Em que você tem gastado seu dinheiro? Para que fins você usou dinheiro
que talvez devesse ser usado para alimentar sua esposa e filhos, ou vesti-los?
Do que você tem se alimentado? Olhe! É alimento próprio para ser humano? Avalie
o que você gosta. Enfrente-o com calma. É algo digno de uma criatura criada por
Deus, com inteligência e sabedoria? É coisa que pelo menos honra o ser humano —
quanto mais a Deus? É alimento de porcos, ou é próprio para ser consumido por
um seu humano? Não basta que você apenas lamente a sua sorte ou se sinta
miserável. Como acabou em tal estado ou situação? Olhe para os porcos e as
bolotas, e compreenda que é tudo devido você ter abandonado a casa do seu pai,
agindo deliberadamente contra os ditames da sua própria consciência,
deliberadamente zombando da religião e de todos os seus mandamentos e
princípios; tudo é resultado exclusivo de suas próprias decisões. A situação em
que se encontra hoje é conseqüência de suas próprias escolhas, e de sua
próprias ações. Enfrente isso e admita-o. Esse é o primeiro passo essencial no
caminho da volta.
O passo seguinte é compreender que há somente Um a que
você pode recorrer, e somente uma coisa a fazer. Não preciso elaborar esse
ponto em detalhes, no que se refere ao filho pródigo, pois é bastante claro.
“Ninguém lhe dava nada”. Tentara de tudo, esgotara todos os seus recursos e
seus esforços, bem como os esforços de outras pessoas. Tudo acabara para ele e
ninguém podia ajudá-lo — exceto um. O pai! A última, a única esperança. O
evangelho sempre insiste que cheguemos a esse ponto. Enquanto lhe resta um
centavo que seja, o evangelho não o ajudara. Enquanto tiver amigos, ou entidades
às quais pode recorrer em busca de ajuda, crendo que lhe darão assistência, o
evangelho nada tem a lhe dar. Naturalmente, enquanto o homem achar que pode se
manter recorrendo a qualquer um desses outros métodos, ele continuará tentando
fazer isso. E em nossa estimativa, o mundo ainda está longe da falência. Ele
ainda crê em seus métodos e em suas próprias idéias. E de que forma patética
nos agarramos a ele! Confiamos em nossa força de vontade e em nosso próprio
esforço. Recorremos aos “anos novos” do nosso calendário com se ele pudessem
fazer qualquer diferença em nossa situação! Buscamos a ajuda de amigos e
companheiros, de parentes e queridos. Ah, vocês estão familiarizados com o
processo, não só em seus esforços de acertar a sua própria vida, mas também nos
esforços de endireitar a vida de outros a respeito de quem estão preocupados ou
ansiosos. E assim continuamos até termos esgotados os recursos. Como o pródigo,
continuamos até nos tornarmos frenéticos, e até ao ponto em que “ninguém nos dá
nada” Somente então é que nos voltamos para Deus. Oh que insensatez! Permitam
que eu estoure essa falácia aqui, e agora. Enfrentem-na com franqueza.
Compreendam que todos os seus reforços vão falhar, como sempre falharam até
aqui. Entendam que a melhora será meramente transitória e temporária. Parem de
se enganar a si mesmos. Compreendam como é desesperada a sua situação. E
compreendam que existe somente um poder que pode colocar suas vidas no caminho
certo — o Poder do Deus Todo-poderoso. Você podem continuar confiando em si
mesmos e nos outros, e se esforçando ao máximo. Mas daqui a um ano a sua
situação não só será a mesma, e sim muito pior. Somente Deus pode salvá-los.
No entanto, ao se voltarem para Deus, vocês precisam
compreender também que nada podem pleitear diante dEle, exceto a Sua
misericórdia e compaixão. Quando o pródigo abandonou o lar, sua exigência foi:
“Dá-me!” “Ele exigiu seus direitos. Estava cheio de auto-confiança e até mesmo
presunção, sentindo que não estava recebendo tudo a que tinha direito. “Dá-me”!
Mas quando voltou para casa, o seu vocabulário mudou e o que ele diz agora é :
“Faz-me”. Anteriormente ele sentira que era “alguém” e que estava na posição de
exigir direitos inerentes e dignos de uma pessoa como ele. Agora ele sente-se
reduzido a nada e ninguém, e compreende que sua maior necessidade é que algo
seja feito de sua vida. “Faz-me!”. Amigo, se você acha que tem qualquer direito
de exigir perdão de Deus, posso lhe assegurar que está perdido e condenado. Se
sente que Deus tem o dever e a obrigação de perdoá-lo, você certamente não será
perdoado. Se sente que Deus é severo e que está contra você, então é culpado do
maior de todos os pecados. Se ainda sente que é “alguém” e que tem direito de
dizer “dá-me”, você nada receberá além de miséria e contónua desolação.
Todavia, se compreender que pecou contra Deus e O indignou, se sente que não
passa de um verme, ou menos que isso, indigno até de ser considerado um ser
homem — quanto mais indigno de Deus! — se sente que nada é, em vista da forma
como se afastou dEle e Lhe voltou as costas, ingnorando-O e zombando dEle, se
se lançar diante dEle e da sua misericórdia implorando-Lhe que na sua infinita
bondade e amor, Ele faça algo da sua vida, então tudo será diferente. Nunca foi
a vontade de Deus que você acabasse na situação em que esta. Foi contra a
vontade dEle que você se afastou. A decisão foi toda sua. Diga-lhe isso, e
confesse também que o que mais o preocupa e aflige não é apenas a miséria que
trouxe à sua própria vida, porém o fato de ter desobedecido a Ele, insultando-O
e ofendendo-O.
Então, tendo compreendido tudo isso, ponha-o em prática!
Abandone a terra distante. Sua presença neste culto significa que você se
levantou dentre os porcos e as bolotas. Mas afasta-te dessa terra longínqua.
Faça-o! Volte-se para Deus, busque a reconciliação com Ele! Tome uma decisão.
Entregue-se a Ele! Ouse confiar nEle! Como teria sido ridículo se o filho
pródigo tivesse limitado a pensar aquilo tudo, sem colocá-lo em prática! Teria
continuado na terra longínqua. Mas ele agiu. Pôs em pratica a sua decisão.
Cumpriu sua resolução. Voltou para o pai e entregou-se à sua misericórdia e
compaixão, e você precisa fazer o mesmo, da forma como já indiquei.
E se fizer isso, descobrirá que no seu caso, como no caso
do filho pródigo, haverá um novo começo para a sua vida, um novo princípio
firme e sólido. O impossível acontecerá, e você ficará assombrado e maravilhado
com o que descobrirá. Não vou me deter na alegria e no gozo e na emoção disso
tudo hoje, para que possa enfatizar a realidade desse novo começo que o
evangelho nos dá. Não é algo etéreo ou trivial. Não é uma simples questão de
sentimentos ou emoções. Não é uma anestesia ou um sedativo que amortece nossos
sentidos, levando-nos a sonhar com um mundo brilhante e feliz. É real, é
verdadeiro. Em Jesus Cristo, um novo começo, real e genuíno, é possível. E é
possível somente através dele! A grandeza do amor do pai nesta parábola não é
expressada tanto em sua atitude como no que ele fez. Amor não é um mero sentimento
vago, ou uma disposição geral. O amor é algo ativo! É a atividade mais dinâmica
do mundo, e transforma tudo. É por isso que também aqui somente o amor de Deus
pode realmente nos dar um novo começo, uma nova oportunidade. O amor de Deus
não se limita a falar sobre um novo começo: “Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu...”. O pai fez certas coisas pelo seu filho pródigo; e somente
Deus pode fazer por nós e para nós aquilo que nos levantará outra vez.
Observemos como Ele o faz. Oh, a maravilha do amor de Deus, que realmente faz
novas todas as coisas, o único que realmente pode fazer isso!
Observem como o pai oblitera o passado. Ele vai ao
encontro do filho como se nada tivesse acontecido, ele o abraça e beija como se
sempre tivesse sido zeloso e exemplar em toda sua conduta! E com que rapidez
ordena aos servos que removam os farrapos e andrajos da terra longínqua, e com
eles todos os traços e vestígios do seu passado pecaminoso. Com todas essas
ações ele apaga o passado de uma forma que mais ninguém poderia fazer. Somente
ele podia perdoar de fato, somente ele podia apagar o que o filho fizera contra
ele e contra a família; e ele o fez. Removeu todos os traços do passado. E essa
sempre é a primeira coisa que acontece quando um pecador se volta para Deus da
forma como estamos descrevendo. Voltamo-nos para Ele esperando tão pouco quanto
o pródigo, cuja expectativa era que fosse feito um servo. Quão infinitamente
Deus transcende todas as nossas maiores expectativas quando Ele começa a tratar
conosco! Tudo que pedimos é alguma forma de começara outra vez. Deus nos
maravilha e surpreende com Sua primeira ação — obliterando todo o nosso
passado! E isso, enfim, é o que almejamos acima de tudo. Como podemos ser
felizes e livres em vista do nosso passado? Mesmo que não cometamos mais certas
ações ou um certo pecado, o passado está presente e sempre temos diante de nós
o que fizemos. Esse é o problema. Quem pode nos libertar do nosso passado? Quem
pode apagar do livro da nossa vida aquilo que já fizemos? Há somente Um! E Ele
pode fazê-lo! O mundo tenta me persuadir que não importa, que posso voltar as
costas ao passado e esquecê-lo. Mas eu não posso esquecer — ele sempre me volta
à lembrança. E me lança em miséria e desespero. Posso tentar de tudo, porém meu
passado permanece um fato sólido, terrível, medonho. Há alguma forma de me
livrar dele? Algum modo de apagá-lo? Há somente um que pode removê-lo dos meus
ombros. Eu só posso ter certeza que meus farrapos e andrajos se foram quando os
vejo na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que os tomou sobre Si e Se fez
maldição em meu lugar. O Pai mandou que Ele tirasse de sobre mim os meus
farrapos, e Ele o fez. Ele levou minha iniqüidade, e Se vestiu e cobriu com meu
pecado. Ele o tirou, lançando-o no mar do esquecimento de Deus. E quando eu
compreendo e creio que Deus em Cristo não só perdoou meu passado, mas também o
esqueceu, quem sou eu para procurar por ele e tentar encontrá-lo? Minha única
consolação, quando considero o passado, é lembrar que Deus o apagou. Ninguém
mais podia fazer isso. Mas Ele o fez. E este é o primeiro passo essencial para
um novo começo. O passado precisa ser apagado; e ele é apagado em Cristo e em
Sua morte expiatória.
Todavia, para ter um começo realmente novo, mais uma
coisa é necessária. Não basta que todos os traços do meu passado sejam
removidos. Preciso de algo no presente. Preciso ser vestido, necessito de algo
que me cubra. Preciso de confiança para começar outra vez e para enfrentar a
vida, as pessoas e os problemas que fazem parte dela. Embora o pai tenha
corrido ao encontro do filho e o beijado, isso por si só não lhe teria dado
segurança. Ele saberia que todos veriam os andrajos e a lama. Por essa razão, o
pai não se limitou a isso. Ele vestiu o rapaz com roupas dignas de um filho,
com todas as provas externas dessa posição. Anunciou a todos que seu filho
retornou, e o vestiu de forma que o rapaz não se sentisse envergonhado diante
dos outros. Ninguém mais além do pai podia fazer isso. Outros podiam ter
ajudado o rapaz, mas somente o pai podia restaurá-lo à sua posição de filho e
prover tudo o que estava associado a ela.
Exatamente o mesmo acontece quando nos voltamos para
Deus. Ele não só nos perdoa e apaga nosso passado, mas também nos torna filhos.
Ele nos dá uma nova vida e novo poder. E Ele lhe dará tal certeza do Seu amor,
meu amigo, que você poderá olhar para os outros sem qualquer sentimento de
vergonha. Ele o vestirá com o manto da justiça de Cristo, e não só lhe dirá que
o vê como filho, mas na verdade fará com que sinta que realmente o é. Quando
olhar para si mesmo, você nem sequer se reconhecerá! Olhará para o seu corpo e
verá esse manto de valor inestimável, olhará para os seus pés e os verá
calçados de sandálias novas, olhará para sua mão e verá o anel, o selo do amor
de Deus. E quando fizer isso, sentirá que pode enfrentar o mundo todo de cabeça
erguida, sim, e poderá enfrentar o diabo e todos os poderes que o enganaram no
passado e que arruinaram a sua vida. Sem essa posição e confiança, um novo
começo não passa de um produto da imaginação. P mundo tenta limpar suas velhas
vestes, buscando dar-lhes uma aparência respeitável. Somente Deus, em Cristo
pode nos vestir com um manto novo, e realmente nos tornar fortes. Que o mundo
tente apontar o dedo para nós, querendo trazer à tona o nosso passado! Que
tente lançar seus piores estrategemas contra nós! Basta que olhemos para o
manto, as sandálias e o anel, e saberemos que tudo está bem.
E se você ainda requer uma prova clara da realidade de
tudo isso, ela pode ser encontrada no fato que até mesmo o mundo tem de
reconhecer que é verdade. Ouça as palavras do servo, falando com o irmão mais
velho. O que ele diz? “Um homem de aparência estranha, em andrajos, apareceu
aqui hoje?” Não! “Veio o teu irmão”. Como ele soube que era o irmão? Ah, ele
vira as ações do pai e ouvira suas palavras! Ele jamais teria reconhecido o filho,
porém o pai o reconheceu, mesmo à distancia. O pai o reconheceu! E Deus
reconhece você, e quando você se volta para Ele e permite que Ele o vista,
todos ficarão sabendo. Até mesmo o irmão mais velho ficou sabendo. Era a última
coisa que ele queria saber, mas os cânticos e os sons de júbilo e alegria não
deixavam dúvidas quanto à conclusão inevitável. Ele estava por demais aviltado
para dizer “meu irmão”, no entanto, até mesmo ele teve que dizer: “Este teu
filho”. Não passou prometer que todos o amarão, que falarão bem a seu respeito
se entregar sua vida a Deus em Cristo. Muitos certamente o odiarão, e o
perseguirão zombando de você e fazer muitas outras coisas contra você, mas, ao
fazerem isso, estarão na verdade testemunhando que eles também perceberam que
você é uma nova pessoa, que sua vida foi renovada e recebeu a oportunidade de
um novo começo.
O que mais você requer?
Aqui está a oportunidade para um começo realmente novo. É
o único meio. O próprio Deus o tornou possível, enviando Seu Filho unigênito a
este mundo, para viver, morrer, e ressuscitar. Não importa o que você tenha
sido no passado, nem o que é no momento. Basta que se volte para Seus,
confessandp seu pecado contra Ele, lançando-se sobre Sua misericórdia em Cristo
Jesus, reconhecendo que somente Ele pode salvar e guardar você, e descobrirá
que.
O passado será esquecido
Gozo dado no presente,
Graça futura prometida —
E uma coroa de glória no céu.
Venha! Amém.